23.7.04

Se Leonardo daVinci,
por que eu não posso dar duas?

Existem momentos na vida de um amante da literatura em que ele reconhece que fez merda. Isso é ainda pior na vida de um Nerd, porque enquanto ele reconhece a necessidade de virtudes como regularidade gramatical e ortográfica (que são secudárias à primazia da qualidade da obra como renovadora da produção literária), ele não pode deixar de notar que o livro que ele acabou de ler, tão aclamado pela crítica e pelos amigos, é uma bela de uma bosta.

É isso aí. Há algumas semanas atrás, terminei de ler O Código Da Vinci (BROWN, Dan. Editora Sextante, 2004), e levei algumas semanas negando o fato com todas as forças do meu ser. Mas como diria aquele cavalheiro com diarréia galopante, "não dá mais pra segurar".

O livro é muito ruim mesmo.

O autor tenta criar uma versão best-seller de O Pêndulo de Focault, do mestre Umberto Eco, cheio de conspirações, mistérios, revelações surpreendentes sobre mistérios ocultos mesclados com informações apóscrifas, sociedades secretas e seus não menos secretos participantes.

E claro, eu nem preciso dizer, mas ele falha miseravelmente.

Recheado de pequenos segredos "ocultos", no melhor estilo aprenda-mesmo-sendo-um-americano-idiota, ele usa personagens caricatos, bidimensionais, em uma trama tão óbvia quanto idiota. E o pior é que ele é parte de uma série!

Vrdaeddeiramente deprimente. Muito pouco do livro se salva, e quando eu digo muito pouco, eu digo quase nada. Se querem um romance bem mais interessante, procurem pelo O Enigma do Oito, de (NEVILLE, Katherine, Editora Best Seller, 1988), uma intrincada trama de sociedades secretas recheada de interessantes reviravoltas, xadrez, física subatômica, novela das oito e mistérios que a humanidade não pode conhecer.

Mas voltando ao lixão: ainda não sei como é que eu fui comprar aquela porcaria baseado apenas na opinião de uma amiga e de um colega de classe. Quer dizer, a minha amiga ainda passa - ela é às vezes meio impressionável, embora costume acertar nas escolhas. Mas na de um colega de classe... Tsc, tsc. Uma misaelada daquelas.

Deixem-me terminar com um "não comprem e não leiam", pelo menos, se puderem evitar. Este livro é como uma droga psicodélica: cara e faz mal aos neurônios. E pra piorar, só dá bad trip.

 

18.7.04

Filmes proibidos

Não, esse post não é sobre pornografia. Na verdade, eu só queria comentar sobre alguns filmes que eu assisti e que provavelmente jamais, nunca, em tempo algum eu vou ter a chance de ver novamente.

Isso já aconteceu com você, certo? Uma madrugada insone curtindo aquela fossa pós-chute-na-bunda, ou depois de chegar daquela festa tarde da noite, ainda ligado, com um resto de dance dance revolution techno trip-hop music ainda ecoando nas profundezas do seu canal auditivo. Você se agarra com seu refrigerante ou comida-porcaria preferidos e liga a TV, zapeando em busca de algum tesouro em 525 linhas de resolução, esperando não encontrar aquela milésima reprise de Pelo Amor de Benji.

Velhos clássicos, ou aquelas pérolas que são boas demais para a sessão da tarde - ou ainda por demais complexas em forma e conteúdo para o Supercine ou Tela Quente, e por isso mesmo ficam relegadas às longas horas antes do amanhecer, quando apenas os solitários, os insones e os astronautas do mundo recheado por aquela estranha luz crepuscular da TV, como se fosse uma realidade feita de regras simples e imutáveis, como "a polícia sempre chega atrasada", e "o assassino nunca morre da primeira vez".

 

Freeway

Embora eu tenha visto apenas o último terço do filme, é uma daquelas estórias que você não vê tratada com tão bom humor negro no cinema americano desde Assassinos por Natureza ou Clube da Luta.

Reese Witherspoon interpreta este curioso conto de fadas moderno, como uma chapeuzinho vermelho (estilo Christiane F.) que é violentada pelo lobo mau (Keiffer Shuterland, maravilhosamente desfigurado pela maquiagem) e acaba na cadeia, após tentar obter sua (psicopática?) vingança. Fugindo da cadeia com a ajuda das colegas (Alana Ubach, de O Mundo de Bickman e a já-conhecida-mas-só-recentemente-reconhecida Brittany Murphy), ela volta à casa da vovó para seu terrível desfecho.

Se tiverem a chance, não percam.

 

Título desconhecido

Este é um verdadeiro tesouro do Corujão (ainda existe?). Encontrado em uma madrugada regada a coca-cola com rum e jujubas de cereja (não perguntem), ele conta com a aparição especial de Rick Moranis, inesperada e - infelizmente - curta. O enredo é tão simples quanto incompreensível: um rapaz, recém-formado em administração (ou economia, eu nunca lembro) vai fazer um estágio em uma megacorporação, em cuja sede a loucura é mais comum que relatórios de debêntures ou cópias do balanço semestral. Membros do alto staff que se reúnem na escada de incêndio para fumar maconha enquanto discutem o caminho da empresa para os então iminentes anos 90, jogos de sexo e poder entre as secretárias executivas, tudo tem um lugar nesta comédia despretensiosa e caótica.

Minha melhor lembrança deste filme vem de uma cena onde o jovem estagiário encontra uma administradora na porta de seu escritório, recém-saída de uma acalorada discussão com outros colegas, vestindo trajes que cairiam melhor num catálogo da Valisére (ou, para os puristas, Victoria´s Secrets). Ele olha para, entre surpreso e confuso, e ela lhe diz (mais ou menos, minha memória é como o plástico: torna-se fosco com o uso prolongado do álcool):

- Não fique tão surpreso.
(dá uma longa tragada em seu Dunhill de três dólares a unidade)
- um dia eu também fui como você. Queria mudar o mundo, mudar tudo, fazer melhor, mais humano. E para isso eu fiz de tudo. De tudo.
(exala, deixando uma pluma de fumaça preencher a câmera que lentamente fecha em close-up)
- Você luta por cada sala, por cada promoção, faz acordos, vende, rouba, trai: tudo pelo seu sonho.
(traga novamente o cigarro, desta vez com mais convicção)
- E finalmente, quando você chega lá, você consegue, você dá as decisões, você diz o que deve ser feito, como e quando... Quando você está no topo, no comando, quando tudo é seu...
(dá a última baforada antes de lançar o cirgarro longe, com piparote que necessitou de pelo menos duas semanas de prática contínua, em um misto de elegância e um certo desprezo)
- ...você não sabe mais porque quis chegar ali.

Um dia eu vou lembrar do título!