Não é bem assim a música. Mas não importa. Madrugada de hoje, por volta das 04:00am, nos dirigimos à rodoviária para encontrar com minha sogra e cunhada, que junatamente com Thatiane, dirigir-se-ão para a terra santa de Fortaleza, a Meca do Ceará. Reza a lenda que todo cearense tem - de tempos em tempos - que visitar seu local sagrado de nascimento e renovar os laços sacros que o unem a esta terra.
Feliz ou infelizmente, eu sou natalense, então meus laços estão mais que amarrados com esta terrinha desgraçada. Enfim.
Tivemos que esperar um pouco. Teresa (cunhada) havia ido a uma última festa antes da viagem, e só chegou em casa bem em cima da hora. Tudo bem. Quinze minutos antes da saída já estávamos todos lá. Antes que chegassem, contudo, aproveitei para fazer um lanche e comprar um biscoitinho para Thati levar na viagem (o biscoito acabou virando uma pipoca Boku´stm). Enquanto comíamos, um travesti de produção superbásica nos interrompeu - educadíssima - e pediu cinquenta centavos para completar o café. Tendo exatamente o trocado, despachei a criatura com modos à altura de sua interpelação. Polidíssima, ela ofereceu votos de boa viagem e partiu com toda a graça e classe que uma vida em sapatos de salto agulha tamanho 42 pode permitir.
Enquanto as mulheres da família Lira embarcavam, meu sogro (com o peculiar e inescapável senso de humor cearense) denotou a presença de outras duas divas drag na lanchonete da área de embarque/desembarque. Trajadas no mais brilhante e resplandecente refinamento, recobertas da cabeça aos pés em cetim vermelho, rosa e branco, lantejoulas, plumas e outros adereços que a minha heterossexualidade imanente não me permite identificar, elas pareciam ter saído de um show da Cher.
O sol nascia. Deixamos a rodoviária após o ônibus partir, com alguns passageiros refestelados desconfortavelmente em bancos de concreto, alguns dormindo, outros asistindo Patton na Sessão Coruja (aquele com o Savallas). Pessoas começavam a chegar para tomar o primeiro ônibus do dia, enquanto outras chegavam aos poucos, descarregando bagagens e sonhos.
Aeroportos e rodoviárias sempre me deixam com essa sensação contemplativa do mundo, como se cada esquina fosse uma encruzilhada de destinos, onde o acaso faz seus circuitos de surpresas e encontros. Não sei - talvez seja só nostalgia da minha adolescência de viagens e acampamentos.
Acompanhei o ônibus até sair da rodoviária, levando um pedaço do meu destino até as terras longínquas do Ceará. Vai ser um final de semana difícil.