16.12.04

Quando a merda acontece

Nem sempre é com aviso. Nem um "madeeeeeiraaa!" ou à maneira portuguesa, "água vai!"

Na maior parte das vezes, a figura jurídica de Murphy vem sem o menor aviso. Foi assim com meu pai.

Ontem à noite, ele me liga, avisando que seu computador tinha tido um "chilique" e que se recusava a ligar. Tudo bem. Eu tinha que fazer compras no dia seguinte, por volta do meio-dia e depois iria ver o problema. Esperava pelo melhor, claro (pobre desgraçado otimista!).

Mas não era. Quando cheguei, ele até já havia trocado a fonte, que tinha um cheiro forte de queimado (o meu velho é bem desenrolado para quem nasceu antes da televisão), mas que depois diagnosticamos: o cheiro de queimado não era da fonte, mas da placa-mãe/processador, um Duron PC-Chips (malditos presidiários tailandeses!) de 1.2Mhz que havia partido desta para melhor (ou pior, não sei. Para onde vão os hardwares quando morrem?).

Saímos então pela cidade atrás de alternativas. A melhor foi na Miranda, que dá uns descontos para meu pai, cliente cativo já de cinco anos e portador de um cartão de crédito (platinum gold plus extra titanium II: the revenge) do BB. Uma placa-mãe ASRockstar 712-sei-lá-o-quê-GX. O processador foi um Sempron 2.2. Ah, e a maldita memória DDR, 256Mb dela.

Montei a coisa toda. Inicializou, entrou no Windows, mas... Algo estranho. Na tela inicial, ele acusava um Athlon 1.6Mhz. mexi nos jumpers, vi a configuração da BIOS, tudo certo. Mudei pra lá, mexi pra cá, não adiantava. O PC inicializava, e depois de alguns segundos (sempre informando erradamente a identidade do processador), desligava-se automaticamente, como se houvesse superaquecimento do processador (como a placa-mãe é preparada para overclocking, ela monitora aumento de temperatura, de velocidade de barramento, essas coisas).

Murphy atacava de novo.

Como o velho precisava urgentemente do micro para terminar um relatório, eu sugeri que ele viesse aqui em casa. Tudo bem. Conectei seu HD ao meu, e na hora de imprimir uma prova da capa e folha de rosto do supracitado relatório, o que acontece?

Exatamente. Murphy mais uma vez. A impresora jato de tinta está sem preto, e a impressora laser simplesmente recusa-se a carregar a folha de papel necessária para o processo, seja pela gaveta de papel ou pela alimentação manual.

É assim que a merda acontece. Quando você menos espera e quando você menos precisa.

14.12.04

Stop the press!

Não é exatamente uma novidade: o site está no ar há mais de uma semana, mas eu ainda não havia noticiado-o. Então aqui vai: Ricos e famosos, o fololog de Thatiane, está livre para receber visitas e comentários dos amigos e curiosos.

E tenho dito!

P.S.: o meu deve chegar em breve, mas não será um fotolog como os outros; não, nada disso: será muito pior! Aguardem!

Lone Landscapes

Quando fui vistar a Taverna do Javali, dei de cara com um post sobre o site Kid of Speed, que relata os passeios (fotográficos) de motocicleta de uma jovem ucraniana pela da área próxima a Chernobyl.

Algumas das fotos me trouxeram a lembrança (e talvez não só a lembrança, mas também a sensação) daqueles filmes que eu assistia nas sessões de madrugada da Globo, quando eu tinha oito, nove anos, sei lá (meus pais eram muito tolerantes com a hora de dormir). Eram os então populares filmes de hecatombe nuclear, sobre o fim da vida e da humanidade na face da Terra, preconizados em fábulas às vezes de fundo moral, às vezes apenas como uma fantasia escapista repleta de desespero - como se dissessem "ainda bem que não aconteceu!"

Não aconteceu então, mas qualquer um que tenha passado a adolescência nos anos oitenta pode se lembrar do pânico que pairava no ar, denso ao ponto de você precisar de uma motosserra só para poder levantar da cama. Era na esperança de "ninguém ser louco o bastante para apertar o botão" que seguíamos no dia-a-dia. Talvez seja por causa disso que nossa geração tenha sido tão marcada pelo conformismo. Haviam milhares e milhares de megatons prontos para cruzar oceanos e se espalharem pelo mundo em belos e tóxicos cogumelos a qualquer instante - e não se podia fazer nada sobre isso.

O Java tinha razão. As fotos deixam um sabor estranho na boca. É como jogar Half-Life às três da manhã: seu personagem caminha por longos corredores que na introdução do jogo eram repletos de vida e movimento. E que agora são a única coisa que ele espera não encontrar.

Quando eu tinha catorze ou quinze anos, e a vida me parecia uma confusão, vazia de qualquer possibilidade de sentido, eu costumava me levantar às três e meia, quatro e meia da madrugada (juro por Deus!!) para caminhar até a praia de Ponta Negra (na época, eu morava a meia hora de caminhada da praia). Não haviam ônibus se movendo desde a meia-noite, e poucos carros então tomavam este destino. A praia não era ainda o bordel turístico que conhecemos.

Naquela meia hora, eu me sentia completamente desconectado do mundo, cujos únicos sons eram os do vento atritando contra a duna e sua fina coberta de mata atlântica. Em todos os sentidos, eu era a última pessoa do mundo. As casas estavam fechadas e as lâmpadas dos postes já tinham sido apagadas por seus timers, atentos ao menor sinal de luz matinal. Contudo, eu não identificava este sentimento como mera solidão: era a aceitação de que eu era o último da minha espécie e que qualquer coisa que eu fizesse não significaria nada. Pura angústia de adolescente na interface com um mundo à beira da destruição mútua assegurada

Acho que posso entender como Elena se sentia em seus passeios - trazendo de volta para casa autênticos postais do inferno, revelando que nossa pena final talvez não seja pelo fogo ou pelo gelo (sendo ambos os únicos convidados em Chernobyl, pelos próximos 900 anos), mas pela solidão.

Pecados singelos

Consegui deixar muita coisa para trás.

Em especial, consegui terminar o maldito site dos infernos - que aliás, ainda falta ser publicado, mas aí já é um problema do meu cliente, que terá que arcar com os custos de hospedagem/domínio, e no momento, está indeciso sobre qual servidor é mais barato... Como se o meu serviço já não tivesse sido barato o bastante. Mas enfim.

Uma segunda coisa que terminou foi o semestre letivo, embora eu não tenha ansiado por isso. Ir à aula é algo que sempre me fez sentir melhor - praticamente o equivalente de 500g de chocolante branco com recheio crocante ou uma ida ao cinema.

Mas foi bom terminar esta etapa. Agora, são só mais dois anos até a conclusão do curso - e vocês podem se perguntar "apenas? São dois anos INTEIROS! Setecentos e trinta dias! Dezessete mil, quinhentas e vinte horas! Um milhão, quinhen - vocês pegaram a idéia... O que diabos ele está fumando e por que não oferece a ninguém?" A verdade é que cada mês, cada dia, cada aula, é para mim como recuperar um pedaço da minha vida, ou pelo menos o que ela poderia ter sido, se eu não tivesse largado o curso de Comunicação na UFRN em 97. Já se vão dez anos desde que passei naquele fatídico vestibular em 94. E eu fico às vezes matutando como seria esta vida se eu houvesse prosseguido, apesar de tudo o que acontecia então.

Provavelmente seria alguém muito diferente, e certamente não teria passado por muitas boas experiências que tive ao longo do caminho, que acabaram por me tornar em quem sou. E quer saber? Eu gosto de quem sou. Certo, talvez eu seja o único (tá bom, Thati, eu não sou o único), mas já é o bastante. Pelo menos eu tenho amigos que falam mal de mim.

Vou colocando a vida nos eixos. Revendo os amigos que eu às vejos relego ao descaso por achar que eles já têm problemas o bastante sem terem que me aguentar falando sobre a obscura inevitabilidade do destino como um laborioso caos fragmentado que se alterna em padrões superimpostos de microordem sobre a trama coesa da realidade.

Viu só? Eu fiz de novo.

De qualquer maneira, estamos de volta. Espero que isso não vá incomodar muita gente, por que eu já estou quase me acostumando a aceitar o fato de que tem gente no mundo que não gosta de mim. O perigo vai ser quando eu começar a gostar disso.

Saludos amigos!