Vocês devem (ou eu pelo menos assim espero) ter lido meus posts anteriores sobre a condição de minha turma. Bem, meninos e meninas, quando você acha que a coisa não pode ficar pior...
Deus vem e mija em você.
Hoje eu fiz a prova de Antropologia (a professora estava possessa com a turma e fez uma prova de múltipla escolha de arrancar os cabelos), mas não me peçam para comentar - sou famoso por não saber avaliar os resultados das minhas provas. Logo antes da mesma, tive uma conversa esclarecedora com a criatura (que eu antes havia caracterizado como "pombão", também servindo o adjetivo "apombalhado") da minha turma, o meu quase-fã.
E, como eu disse, as coisas são piores do que eu imaginava que poderiam ser.
Primeiro, ele vem e esculacha a aula de minha dileta e pouco paciente amiga Luciana (a supracitada professora de antropologia), com argumentos que eu não usaria nem para justificar meu gosto por sorvete de nata com goiaba. O pior é que, ao ser criticado pelos motivos, ele não reelabora, ou racionaliza a crítica - ele simplesmente repete tudo o que disse. Acho que ele imagina poder vencer pelo cansaço. Pobre coitado. Me vencer pelo cansaço.
tsk, tsk.
Depois, quando pedi para dar exemplos da má qualidade da aula, ele recuou e disse que "são muitos, não dá assim, tipo, lembrar de todos". Ótimo. Sócrates ficaria orgulhoso de você. Deixei pra lá. Não jogo pérolas aos porcos (mesmo porque poderia lhes fazer mal), muito menos sementes no deserto. Balancei a cabeça, dei aquele sorriso largo que a gente normalmente reserva aos nossos interlocutores que têm problemas de ordem intelectual e perguntei se tinha estudado para a prova.
Depois do intervalo (a prova era no segundo horário), eu me encostei no balcão ao lado da sala, tomando um ventinho e aquecendo o cérebro - e adivinhem quem veio se juntar a mim!
Aí a coisa piorou. Começamos a falar sobre gostos, bebidas, festas e música. Durante um determinado instante, entendi perfeitamente como o Yuri se sentia (não, nada homossexual), um sentimento de isolamento do resto da humanidade, uma vontade incontrolável de que todos que não fossem educados, cultos e sofisticados fossem levados para alguma masmorra infecta, escura e mal-cheirosa, onde seriam torturados incansavelmente até o fim de suas vidas naturais.
O Yuri que me corrija.
Para aquele apóstata todo vinho é igual (em suas palavras, "...uma merda! O cara toma uma cachaça (sic) de vinho e no outro dia dá uma ressaca feladaputa!"), cerveja só se for Skol, vodka só se for Slova, terno é uma merda, e eu quase tive um ataque apoplético tentando conter o riso quando ele contou sobre sua experiência de degustação de vinho em um restaurante chique. Ou ao acompanhar sua prima (uma professora de etiqueta, imaginem só) em um jantar social, de terno e gravata (ou, novamente em suas palavras, "becado feito um pinguim"), tendo que se conter para não cair de boca descontroladamente na comida e na bebida. Enfim, ele odiou a festa por ter que se comportar como um ser humano civilizado.
É nessas horas que eu não apenas entendo, mas simpatizo com Yuri quando ele fala da barbárie que assola o mundo.
O mundo está chegando ao fim.
E já começou lá pela minha classe.
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