7.6.04

Vidas randômicas

É engraçado (eu tenho que me livrar deste termo - vai acabar ficando igual ao "basicamente" do Misael) como as coisas - e as pessoas em minha vida chegam de maneira tão inesperada e tão óbvia.

Com isso eu quero dizer que as pessoas à minha volta, aquelas que estão próximas, aquelas distantes apenas pela espaço entre nós, e aquelas cujos caminhos não cruzam mais os meus, e que me deixam imaginando quando irão fazê-lo.

Embora eu pareça um tanto triste neste início de texto, não me entendam mal (e eu já posso ouvir Elvis Costello solfejando oh, God, please, don´t let me be misunderstood), não confundam nostalgia com melancolia - são dois estados de espírito bem diferentes. Embora às vezes eu me detenha contemplativo, como quem olha o vazio por tempo demais, não há tristeza ali, coisa que nos últimos dois meses - apesar do tumulto que tem atingido minha vida em Mach 5.8 - eu não tenho sentido. Mas às vezes vejo às minhas costas as lembranças de dias passados, e destes dias, eu conservo bem a memória. Pois de tudo que eles me deram, é o que eu fiz deles, e é o que sou.

E uma boa parte do que conservo destes dias, destes inomináveis e inolvidáveis dias, o que me restam, além das lembranças, sejam elas quais forem, são minhas amizades, e não posso associar outra coisa a elas que não seja boa.

Como meus amigos da "velha guarda - Neni, André, Wagner (nem sempre um favorito de todos, ou aliás, não creio que eu deveria usar a palavra favorito aqui, mas dane-se, amizades não estão sujeitas a esse tipo de avaliação - a gente não gosta dos amigos porque são perfeitos: gosta-se porque são amigos e pronto) e Betho-san. Misael, também, entre o velhos (e sem piadas aqui, já houve mais do que o bastante, e eu temo que talvez um dia as tenhamos esgotado).

E tudo isso começa em um pátio da ETFRN.

É um pouco como se a velha escola fosse um magneto que atraiu não a nós, mas uns aos outros - se é que estou sendo claro. Muitas das caras amizades que mantenho começaram, direta, ou indiretamente, a partir dali: Wagner (nosso saudoso amigo nas terras austrálicas), Henrique, Mallen, Yuri, Pinto (Ricardo e Henrique) e Cláudio (que parte para as terras do Norte). E curioso como dentro dos muros da mesma escola vieram os laços com amigos como os Vandersteens, que apesar de milhas de asfalto, cidades e linhas telefônicas, continuam a nos aparecer, como que lembrando que a distãncia não é um muro.

É curioso lembrar como esses amigos se interligam em uma teia de conexões que nunca entendi bem, como alguns deles se tornaram companheiros de trabalho, amigos, irmãos e amantes uns dos outros.

De que maneira alguém iria imaginar a priminha do Wagner tornando-se a bem-querida do Dudu? Ou Eduardo e Misael trabalhando juntos (e por duas ocasiões!), ou mesmo o nosso saudoso e lembrado (embora eu tenha soado mais funesto que gostaria neste "saudoso") Cláudio trazendo Pablo, que seria outra adição ao nosso círculo já tão complexo de amizades? Não vou nem falar da minha querida cara-metade, cuja amizade de longos anos com a esposa de Misael a trouxe para perto de mim.

E as pessoas não param de me surpreender - ora, que diabos, eu mesmo não paro de me surpreender, passando por sobre minhas próprias incapacidades e pequenos desastres recentes, dando a volta por cima e sacudindo a poeira.

Há coisas em minha vida que não gosto - algumas eu mudo, outras eu aceito, com a sabedoria que a experiência e a paciência vão me emprestando, ao longo de cada minuto, de cada dia e de cada ano. Mas se há algo que recebo, sem mudar ou ter que usar o sacrossanto sacrifício de aceitar, são minhas amizades.

E, meninos e meninas, nas minhas horas mais difíceis, quando o mundo me quer de joelhos à sua frente, eu o faço com um secreto sorriso nos lábios. Porquê todos os problemas, todas as incongruências, tudo o que me afronta empalidece quando confrontado com a inegável alegria de encontrar meus amigos, mesmo aqueles separados pelos anos ou pela distãncia, que eu sei, não são grilhões nem muros entre nós.

O mundo nunca deixa de me surpreender.

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