A Maria Eduarda foi sepultada hoje. Nem tive coragem de ir ao enterro - odeio ver qualquer caixão menor que um metro de meio, que não contenha pelo menos sessenta quilos de marmanjo em seu interior, com vários anos muito bem-vividos de experiência, com seus dissabores e alegrias.
Falei com meu pai, que tinha mais novas do ocorrido: o troço é tão trágico que deveria ser grego.
A Maria Eduarda estava na casa do pai (os pais dela são separados), e atravessou correndo a garagem, provavelmente brincando ou perseguindo algum amigo imaginário, bem no momento em que o avô entrava com o carro de ré. Ela foi colhida pelo pára-choque e atirada contra a parede. Deu entrada no hospital já praticamente desenganada, lesão craniana profunda, sem chances, sem esperança.
Eu não sou o tipo de cara que quando acontece uma merda com alguém, ele fica se perguntando se não deveria mudar sua vida para não ter o mesmo fim, ou que não deveria achar sua vida uma merda, porque há outros em situação muito pior e não estão nem reclamando. Não senhor. Tá achando ruim, reclame, mude, fique na sua, sei lá. faça algo, nem que seja se dar o direito de não fazer coisíssima nenhuma.
Mas eu fico pensando nessas coisas. Há uns dezesseis anos atrás eu também perdi uma filha... E fico aqui na minha nostalgia de tristezas recordando e entendendo que a perda pode até te ensinar alguma coisa, pode te fazer uma pessoa melhor.
Mas é uma merda.
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