Eu nunca fui de julgar alguém pela primeira impressão - talvez temendo que façam o mesmo comigo - mas acho que foi o que acabei fazendo com minha turma da UnP.
Bem, nem todos se salvam; contudo, os que eu achava mais irrecuperáveis e destinados a mostrar orgulhosamente seu burrículo (o neologismo é do Eduardo) com o selo de aprovação do papai a fim de conseguir emprego (e não trabalho) após a obtenção do diploma, foram os que mais espantaram hoje.
Mas vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.
Hoje foi aula de Direito e Cidadania. Apresentação de um trabalho que visava obter uma visão de diferentes classes sociais sobre direitos e deveres do cidadão, o que é cidadania, etc. O de sempre. Tudo baseado em entrevistas feitas com pessoas de diferentes idades, classes sociais, níveis de instrução e por aí vai.
Quando eu achava que a discussão ia terminar em uma rasa mediação entre brincadeiras pueris sobre as respostas e a natureza dos entrevistados, o que se sucedeu foi uma agradável (e olha que razoável praquele povo já seria MUITO) dialogia entre as diversas visões da cidadania brasileira.
Me espantaram em especial:
o Pitboy gostosão - sabem quem é o tipo, né? Alto, forte, roupa da moda, celular de última geração pendurado na bermuda que custa o que eu ganhava em um mês. O cara que, no antigo segundo grau, comia todas as menininhas da sala (tá, eu era nerd e não também não perdoava ninguém, mas era a ETFRN e os tempos eram outros), que, junto com sua malta de playboys jiu-juteiros aterrorizava os nerds amedrontados (menos o papai aqui, que sempre teve 30 quilos, 15 centímetros e duas gradações de judô a mais que seus companheiros de sala de aula) das redondezas. Pois é, o cara simplesmente lançou colocações inteligentes, uma crítica simples mas bem-humorada sobre a relação entre as respostas dos entrevistados e até rebateu - de maneira correta e adequada - a crítica de uma colega sobre seus comentários.
Sabem aquela patricinha de alta roda? Não, eu falo de alta roda MESMO, que só sai com filhas de senadores da República pra cima (prefeito, vereador e deputado, pra ela, é coisa de pobre. Um governador ainda passa. Bem longe, de preferência)? Pois é, vestida num conjuntinho jeans black denim e sandalinhas curtas combinando, adornada de uma constelação discreta de brilhantes verdadeiros (mas sem muito ouro, que isso é coisa de pobre!). Ela mesma. Uma verdadeira intelectual de direita, direitíssima, retrógrada, ferrenha, acirrada, herdeira intelectual legítima de Roberto Campos, mas ainda assim, pontuando suas posições com a mais perfeita lógica cartesiana acrescida de pseudo-noções de retórica da complexidade. O queixo foi bater sei lá aonde. Deu vontade de estrangular (não sem antes citar os seus erros catedráticos sobre a ordem social brasileira e seus lugares-comuns sobre a política da esquerda vigente), mas com muito respeito.
Por último, a patricinha-mor da sala, poderosa, anabolizada, (siliconada ainda não, mas um dia ela chega lá), vestida pra matar, ferir e apreender, com o cabelo em eterna escova e brincos que combinam com o cinto que combina com o salto alto de quinze centímetros (juro por Deus, qualquer um que vocês quiserem), que combina com o sobre-tom da calça colante que combina com a mini-blusa de seda fazendo parzinho com o colete de alguma marca sombria da moda nova-iorquina estilo casual-sofisticado. A desgraçada abre a boca pra comentar sobre a terceira questão, que versa sobre os direitos fundamentais do homem e do cidadão, e solta uma apreciação clara e surpreendentemente correta sobre a situação de desinformação das classes sociais menos favorecidas sobre seus direitos adquiridos e (supostamente) invioláveis.
Assustador.
Afinal de contas, esse curso vai ser mais bem divertido que eu pensava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário