São três da madruga de um sábado já despertando e eu escrevo estas linhas degustando um Bacardi Lemón e apreciando meu (queira Deus) último cigarro...
É engraçado quando penso na minha vida de fumante: comecei cedo, lá pelos treze, catorze anos, soltando umas fumaças aqui e acolá, uma vez por mês, talvez para deleite dos meus amigos, ou talvez para me sentir adulto - sei lá. O que importa é que essa prática só chegou ao ponto de me levar a comprar as primeiras "carteiras" de cigarro (um Free seco e sem gosto) aos dezoito anos. Não haviam muitas restrições em casa - meus pais eram fumantes: minha mãe, de longos Ella, ou Pall Malls de embalagens exóticas e meu pai, de cachimbos e charutos de odor oloroso, quase perfumados. Assim, quando me viram pela primeira vez lançando fumaça pelas narinas adolescentes, houve apenas alguns comentários breves sobre não fumar demais e todo aquele tipo de coisa.
O vício pesado veio com o meus primeiros trabalhos em agências de propaganda: doze horas de trabalho diárias acompanhadas de três (sim, eu disse três) carteiras de cigarro.
Às vezes, quando saía para beber, alimentado pelo inexplicável mecanismo de consumo entre o álcool e a nicotina, alcançava a casa das quatro ou mesmo cinco carteiras. Era a época dos Lucky Strikes, Carltons, LMs e o habitual Benson&Hedges mentolado ou sabor canela.
Quando me casei pela segunda vez (era 92 ou 93, nunca me lembro ao certo), minha então esposa era fielmente alérgica à fumaça de cigarro. Os nossos seis anos de interlúdio amoroso foram passados em absoluta abstinência nicotínica. Acabou o casamento, voltaram os cigarros.
Em 2001 ou 2002 (eu nunca lembro direito), uma consulta ao gastroenterologista confirma a suspeita: duodenite aguda (gastrite das brabas para vocês, leigos ignorantes). Eu reduzi o fumo a coisa de no máximo uma carteira por dia. Há uns oito meses atrás, notei que havia voltado - independente dos perigos para a duodenite - a fumar nos mesmos níveis anteriores.
Decidi parar de vez.
Passei heróicos cinco meses sem encostar na nicotina. Até meus cachimbos e charutos bem-amados (herança de meu pai, que praticamente largou o hábito em anos recentes) foram deixados de escanteio. A duodenite dava sinais de melhora e nem refluxo noturno (é quando a sua bile sobe estômago acima, queimando tudo no caminho e depositando-se na fronha novinha) eu tive mais.
Aí eu voltei a fumar. Coisa de duas, três semanas atrás.
Estresse, tensão - saindo de um trabalho, o outro não dando certo - crise da pré-ante-meia-idade, essas coisas. Vocês sabem (e se não sabem, ainda vão saber). E tome meia carteira de Hollywood Menthols por dia.
Aí eu enchi o saco de novo, decidi que essa vez era definitiva. Pronto. Chega. Agora danou-se.
E esse foi meu último cigarro, fumado há exatamente vinte minutos atrás, horário em que posto este desabafo - que bem sei - será lido não sem algum alívio dos meus "colegas" (pra não deixar Neílson de fora) e amigos que não fumam e nem pretendem (bando de pederastas sicofantas não-fumantes!).
Espero que desta vez eu demore mais um pouco, porque o difícil não é deixar de fumar: é deixar de voltar a fumar.
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