Como estou me sentindo meio lírico hoje (deve ser coisa de pré-feriado, como se fizesse diferença quando você está preso em casa pela corrente do desemprego), vou postar quatro poemas bem bonitinhos. Não, nada de cara feia. Leiam ou vão pro blog da Vanessa Camargo, faizfavô.
O primeiro é um troço que eu escrevi ainda na época da ETFRN, quando achava que namorada se arrumava com poesia. O segundo é uma visão da Mona Lisa, que me ocorreu quando vi na casa de um amigo de meu pai, uma excelente reprodução da mesma, emoldurada: coisa de quinze, vinte anos atrás. Não estou certo. Os dois últimos foram os que escrevi para Thatiane no dia em que começamos a namorar.
MÁRMORE
Meu nome é Mármore.
E ainda não encontrei
a mulher que fosse
como arrebentação,
língua fria de água
lapidando a rocha,
desgastando a pedra nua
com insondável paciência,
até revelar seu interior de carne
travestida em homem
e sangue
e seus desejos.
Por isso eu procuro pela mulher
que seja mar.
Por isso eu sou Mármore.
The Hanging Picture
She hangs there, surrounded
by fine wood — canvas
and all.
Even the paint — acrilics
with oil
stroke in glorius, frozen
serendipity;
yet
in the middle, the early beggining
of a smile
knotting muscles
in an arc of perfection, geometrics
with angled and curved bliss:
the ever-living eyes
— century after century —
to the gleaming
mirror
that faces her
in the hanging walls:
— Mona Lisa smiling
through the ages.
Castanho
Existe algo sob seus olhos
— quase como um sorriso —
Que brilha e dança,
castanho sobre castanho
dando voltas sob a luz.
Não que eu possa entender:
Tens segredos por demais profundos,
Portas sobre portas
Com cadeados e combinações.
Minhas chaves são frágeis
— Sou um pequeno ladrão
na casa do amor —
Mas também és um telégrafo
Sem fios
Mandando sinais,
Como eletricidade viajando à noite,
sobre os sonhos do mundo
em círculos, em raios
em secretas mensagens
até mim.
Meu coração sozinho
Ressoa contra a cortina da noite.
Seu ritmo não cansa,
Fervendo,
Elevando à tona do mundo
Um sutil mensagem
Para grandes olhos castanhos:
“Sou um telégrafo sem fios,
Um sinal sem códigos.
Só tu me entendes,
Só tu me decodificas”.
Tive um sonho:
Toda a elegância de um baile
No movimento de duas mãos:
Marfim e seda
Sob os holofotes, deslizando,
Captando brilhos
(talvez de pérolas, talvez brilhantes
— quem o saberá?)
e reflexos
Na cadência firme da valsa.
Fluindo sobre o mármore frio
Os pés calçados não conhecem
Cansaço algum. Apenas
Secreto prazer,
A certeza da mão contra a outra,
Ombros macios
A confortar o peso de uma vida,
Talvez curta demais (quanto,
pensamos, dura o brilho de uma vela?
O amor responde:
“anos não são o bastante
para se contar”).
A música prossegue,
A noite vai.
A noite toda
Eu e você
Até muito depois
Da música terminar.
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